segunda-feira, 25 de maio de 2009

Há 35 anos morria o jazzista Duke Ellington



Do Terra Música
Ninguém que admire música, seja o ritmo que for, consegue evitar colocar o jazzista Edward Kennedy Ellington em um panteão sagrado, ao lado de Mozart, Bach, Beethoven e Tchaikovsky. Ele foi seguramente um dos maiores compositores americanos e deixou um legado de mais de 2.000 obras-primas como Sophisticated Lady, Take the A Train, Don't Get Around Much Anymore e Caravan.

Nascido em Washington em 19 de abril de 1899, Ellington teve uma infância atípica para um músico de jazz. Seu pai era mordomo, chegando a trabalhar na Casa Branca e sua mãe, uma dona de casa de classe média. Ambos eram pianistas e procuraram fazer o filho aprender a tocar o instrumento, mas a grande paixão do menino era baseball e nunca levava as lições a sério. Devido a seus trajes e modos elegantes, foi apelidado de Duke (Duque) e a alcunha o acompanhou até o fim de sua vida.

Para poder assistir aos jogos de baseball, Ellington trabalhou como vendedor de amendoins nos estádios e considerava esse primeiro emprego como o responsável por tê-lo feito perder o medo do público, já que a venda exigia que gritasse muito e interagisse com as pessoas.

Em 1914, trabalhando como um "soda jerk" (balconista de lanchonetes), criou sua primeira composição de ouvido, já que não sabia ler ou escrever música, Soda Fountain Rag . Encantado pelos pianistas dos esfumaçados salões de bilhar, Duke resolve levar seus estudos a sério e é matriculado na Armstrong Manual Training School. Foi nessa época que começou a tocar em bares, cafés e clubes. Fã do gigante do jazz Fats Waller, foi conhecer o estilo tocado no Harlem, em Nova Iorque, mais swingado e melodioso que o ragtime, imortalizado por artistas como Louis Armstrong e Sidney Bechet.

Dez anos depois de formar sua primeira banda, The Washingtonians, teve a primeira oportunidade de ser líder de uma banda em 1927, quando o então líder Joe "King" Oliver entrou em conflito com a mítica e prestigiada casa de shows Cotton Club. O duque o substituiu e começou a imprimir sua marca no estilo da banda, mais notadamente o jungle style, onde os metais da banda tocam mais fortemente e com mais expressão, dando um ar de selvageria às composições. Outra característica de Ellington era não só aceitar músicas compostas pelos integrantes de sua banda como também adaptar suas próprias canções ao estilo de quem estava solando como o saxofonista Johnny Hodges ou o trompetista Cootie Williams.

Tornando-se um sucesso nas rádios e sendo transmitido para todo o país, Ellington ganhou notoriedade e dinheiro e excursionou na Europa entre 1933 e 1939, ficando encantado com o tratamento que recebia pelos estrangeiros, que não se importavam com o fato de que o gênio era negro, ao contrário de seus compatriotas americanos. De volta aos EUA em 1939, Duke conheceu seu mais fiel colaborador musical, Billy Strayhorn. Mesmo com personalidades completamente opostas, o primeiro com formação popular e o segundo com formação clássica, Ellington disse em uma entrevista: "Strayhorn é meu braço direito, meu braço esquerdo, todos os olhos atrás da minha cabeça, minhas ondas cerebrais na sua cabeça e as dele na minha".

Apesar de nunca ter abandonado o estilo que o tornou famoso, Duke sempre buscou experimentações e novas sonoridades gravando com nomes de vanguarda como Charles Mingus, John Coltrane e grandes vocalistas como Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Rosemary Clooney e Louis Armstrong. Como band leader, Ellington adorava fofocar entre os músicos, jogando um contra o outro, para criar o que ele considerava um ambiente de competição saudável e assim conseguir performances memoráveis nos shows.

Um de seus maiores momentos foi no festival de Newport em 1957 pois, apesar de sua fama e capacidade, o compositor na época encontrava-se no ostracismo e viu nesse show uma oportunidade de reerguer. Segundo o excelente documentário Jazz de Ken Burns, a platéia estava começando a deixar o local do show no meio de uma música que Duke compôs especialmente para o festival, quando o band leader começou os acordes de uma de suas composições mais antigas e complexas: Dinimuendo and Crescendo in Blue. O saxofonista Paul Gonçalves, embalado pela música, solou de improviso por mais de seis minutos e quase provocou um tumulto, já que a platéia, entusiasmada, não respeitava mais os lugares marcados e dançava até em cima do palco.

No mesmo documentário, o grande jazzista Dave Brubeck conta que ao excursionar com Ellington em 1954, foi acordado de madrugada pelo Duke, emocionadíssimo, porque Dave era capa da revista Time. Brubeck conta que foi o dia mais infeliz de sua carreira, porque achava que o gênio das bandas de jazz é que merecia essa distinção. Apesar desse "desprezo" da mídia nos anos 50, Ellington acabou ganhando vários prêmios Grammy em sua carreira, incluindo o de Conjunto da Obra (1966) e de melhor trilha sonora para o filme Anatomia de um Crime de Otto Preminger de 1959. Além disso, recebeu em 1972 uma Medalha da Liberdade do presidente Nixon, foi agraciado com a Legião de Honra da França em 1973 e foi nomeado para um prêmio Pulitzer em 1965.

Ellington faleceu em 24 de maio de 1974, um mês depois de completar 75 anos, por conta de um câncer no pulmão e uma pneumonia. Mais de 12.000 pessoas foram ao seu funeral e inúmeros memoriais foram erigidos em sua homenagem. No fim de sua vida, afirmou que "música é como eu vivo, porque eu vivo e como serei lembrado". Não podia estar mais correto.

Trilha: Duke Ellington - Duke Ellington & John Coltrane

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