quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Você sabe com quem está falando? Não.



Texto do Update or die, por Adriana Salles.
Muito bom, vale a pena e estamos envergando por esse caminho mesmo, segue...

Você sabe com quem está falando? Não.

Parece um paradoxo, mas não é: a cauda longa leva a um rabo curto. Essa história começa com quatro personagens, todos norte-americanos – dois policiais do tipo joão-ninguém e duas celebridades das que poderiam facilmente dizer você-sabe-com-quem-está-falando. A primeira policial, de 20 e poucos anos, deu uma dura anteontem em Bob Dylan (na foto) em Asbury Park, New Jersey, porque ele olhava uma casa de modo “suspeito” (sic). O segundo policial levou o mais famoso acadêmico afro-americano, o professor Skip Gates, de Harvard, para o xadrez em 20 de julho último, quando este tentava arrombar a própria casa para entrar, em Cambridge, Massachusetts.

O Michael Wolff, jornalista premiado e biógrafo do Rupert Murdoch, entre outras coisas, juntou os dois fatos e perguntou em seu blog: “E se não existirem mais celebridades?” Na verdade, ele sentenciou: as figuras icônicas, as estrelas absolutas, estão deixando de existir. As pessoas – policiais e outras – não as reconhecem.

Causas? Tem a ver com a ultrassegmentação da mídia. Tem a ver com o confronto entre os 15 minutos de fama anunciados pelo pop Andy Warhol e os 6 minutos que, segundo nosso filósofo Mario Sergio Cortella, são o máximo de tempo em que a galera consegue prestar atenção em alguma coisa hoje em dia. Pode ter a ver com um fenômeno muito-cacique-pra-pouco-índio (daí tendências como o pessoal não querer ir a shows e preferir brincar de “Guitar Hero”, temas de posts recentes). Deve ter a ver principalmente com a cauda longa do Chris Anderson. Consequências para a sociedade? Requereriam outros posts “elocubratórios”.

Só para completar, acho que a teoria se aplica bem ao Brasil também. No final do ano passado, fui apresentada a uma celebridade de reality show. Não mostrei reação quase, não fazia ideia de quem fosse e me pareceu uma pessoa desinteressante. E deu para notar que o sujeito ficou desconfortável (não por mim, claro; deve ter entendido o que a indiferença representava). Talvez aqui 20% das celebridades ainda consigam ser célebres de fato e respondam por 80% do “barulho” (regra de Pareto), mas o restante provavelmente terá de ocupar nichos de fama mesmo. Como cachorrinhos recém-nascidos (e muito fofos) que têm seu rabo cortado.

Não deixa de ser irônico que a era da celebridade, consagrada pelo Gilberto Braga em uma novela homônima em 2004, tenha evoluído tão rápido para a era da microcelebridade de nicho.

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