Tirado do Updade or die, muito bom, por Leandro Ogalha em 07/07/2009.
Hoje foi um dia histórico. Toda a indústria americana do entretenimento e da informação realizando a cobertura de um evento via internet sem precedentes.Gigantes da televisão se juntaram às novas mídias online e redes sociais e levaram ao mundo um grande espetáculo.
Foi emocionante assistir Stevie Wonder tocando piano enquanto a câmera fazia uma panorâmica do caixão de Michael Jackson. Ver todos aqueles artistas, juntos no palco, cantando em coro, enquanto um deles fazia a voz principal e passava suavemente suas mãos pelas flores que cobriam o astro pop. Que fotografia, que cena, um verdadeiro show!
A procura por ingressos foi tão grande, que existiram ofertas por até US$ 20 mil na internet. Também, não se pode perder este grande espetáculo. Os organizadores e a família do cantor cuidaram de tudo. Movimentaram a indústria fonográfica, convidaram diversos astros, comercializaram milhares de entradas e venderam as licenças de transmissão para que todo o mundo assistisse e todos os fãs pudessem se despedir do astro pop. Poderiam até ter organizado uma turnê fúnebre mundial. Iriam quebrar todos os recordes de bilheteria.
Essa é a sociedade do espetáculo. Não existem mais limites entre o show e a tragédia. Tudo é entretenimento a ser consumido por uma sociedade plugada e faminta por espetáculos como este. Nela, o critério de veracidade é o fato de ter sido noticiado e em qual volume. Ok, agora tenho certeza que Michael Jackson morreu!
O pensador francês Guy Debord (1931-1994) criador do tema-título deste post defende em sua literatura “O Espetáculo” como a multiplicação de ícones e imagens através dos meios de comunicação de massa, de tudo aquilo que falta à vida real do homem comum: celebridades, atores, políticos, personalidades, mensagens publicitárias - tudo transmite uma sensação de permanente aventura, felicidade, grandiosidade e ousadia. É a forma mais elaborada de uma sociedade que desenvolveu ao extremo o fetichismo da mercadoria. A sociedade da vida moderna prefere a imagem e a representação ao realismo concreto e natural, a aparência ao ser, a ilusão à realidade, a imobilidade à atividade de pensar e reagir.
E ele tinha razão, claro. A morte também é um produto de consumo. Como a última guerra, o terrorismo, as pandemias. O que importa as pessoas reais que fazem da tragédia o espetáculo? Destino infeliz o deles. “Garçom traz mais uma cerveja!”
Ninguém nunca respeitou a figura real de Michael Jackson. Ela nunca existiu. Desde a infância teve a vida invadida e transformada num dos maiores produtos do show bizz, seu enterro não poderia ser diferente.
Há muito tempo tudo é movimentado pela grande indústria cultural por um único motivo: porque nós consumimos.
Voltamos a uma situação primitiva onde nos “alimentamos” de tudo, sem critério. Onde o conhecimento deu lugar à informação imediata e vazia. Onde o respeito à privacidade e dignidade alheia se transformou em conteúdo jornalístico e do entretenimento. Que orgulho de nós mesmos!
Este post não tem imagens ou ilustrações vendedoras, não tem tags, não tem links nem categoria. É apenas um simples registro de onde estamos e para onde estamos indo.
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